
Bem vindos, papais!
Sintam-se acolhido!
Uns dos pais em formação me perguntou:
Ricardo, como surgiu este trabalho terapêutico com a paternidade?
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Bem, foi de forma espontânea diante da própria vivência da paternidade, dos inúmeros desafios que se apresentam(ram) e, principalmente, da tentativa de suas superações, bem como da leitura adequada, das importantes trocas de experiências e dos acompanhamentos destes inúmeros outros pais dentro do mesmo processo de gestação.
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Então foi assim, através do acompanhamento destes 33 pais abaixo em construção (hoje em torno de 60)
que me procuraram após eu compartilhar alguns comentários no site BabyCenter a respeito do que possivelmente vinha acontecendo com suas companheiras diante das súbitas mudanças afetivas que elas demonstraram unicamente com eles após engravidarem que propiciou o início destas inúmeras trocas.
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Como eu, todos estes pais passam(ram) pela mesma experiência de uma gravidez separados das mamães gestantes. Em todos estes casos elas terminaram a relação durante a gravidez, quer estando juntos há apenas 3 meses como eu como com 4, 6, 10, 15, 20 ou 36 meses de namoro, união estável e até mesmo de casados, como em alguns casos.
Todas elas – segundo estes mesmos relatos – mudaram subitamente de sentimentos durante a gestação, deixando de gostarem deles 'da noite para o dia', oscilando em seus humores, sentimentos e vontades. Em quase todos estes casos nenhum dos lados se prepararam conscientemente para a gravidez. Salvo raras excessões.
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Pude constatar através da observação destes inúmeros relatos um padrão de comportamento similar em todos eles, quer seja: as gestantes, com o avanço da gravidez – geralmente entre o segundo e o terceiro mês – foram ficando distantes, frias, indiferentes, irritadas, sensíveis e até com raiva, ódio, repulsão e aversão a seus até então companheiros. Nada mais do que eles faziam ou falavam importava mais. Elas ficaram com seus sentidos cegos, surdos e, em alguns casos, mudos para com os pais. Ou seja, elas se desconectaram parcial ou totalmente – por alguma razão real, aumentado e até imaginado – daqueles que as engravidaram.
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Esta foi a prova base de todos estes pais, incluindo eu.
Centradas unicamente no próprio processo da gestação, elas se isolaram. Só mantiveram parcialmente um fio conectados aos pais quando a necessidade econônica assim se fez presente. Caso contrário, se por ventura fossem independente economicamente, o corte era total.
Manifestaram, inclusive, medos e inseguranças quanto ao papel do pai, suas capacidades e valores. Desenvolvendo quase sempre uma lente de aumento desproporcional onde tudo que era pequeno se tornavam
imensos problemas, quando não ofensas, ressentimentos, mágoas, acusações e até manipulações. O que por sua vez, também naturalmente, geravam muitas cobranças, inseguranças, sofrimentos, raivas e incompreensões no lado paterno desta história.
Em alguns casos elas chegaram ao extremo de não só terminarem a relação, como de bloquearem totalmente a comunicação e o diálogo com o futuro pai, quando não mudaram de casas e até de cidades. Todas menosprezando em um certo grau o lado paterno – incluindo toda a família dele – da gravidez.
São 60 casos similares onde o relato de um se confunde quase que fielmente com os dos outros.
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Tantas coincidências assim diante do mesmo evento não poderia passar despercebido entre a gente. E não passou.
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Seriam todas estas constatações o reflexo unicamente da magnitude e intensidade descomunal dos hormônios que entram em atividade na gravidez? Seria pelo relacionamento ser recente e sem raízes? Por não ter havido planejamento? Será que elas voltarão a ser como antes após o nascimento ou será um caminho sem volta, o fim do relacionamento, da união ou do casamento? Mesmo com a separação, conseguiremos manter algum vínculo saudável para a meta comum que é a criação, o desenvolvimento emocional e cognitivo do(a) filho(a)?
Perguntas básicas entre todos estes papais.
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Foi diante da necessidade de responder (e até transcender) estas perguntas e de buscar uma compreensão mais ampla e profunda destes mesmos acontecimentos, do particular momento que as gestantes vivem e, principalmente, de nós mesmos frente a todas estas oportunidades de crescimento e de também nos gestarmos como pais, que nasceu naturalmente – após 12 anos de trabalhos com foco em relacionamentos – a fase paternidade dos atendimentos terapeuticos em Psicossíntese, o que ampliou significativamente o serviço prestado, o que sou muito grato. Ao mesmo tempo da responsabilidade que isto representa.
Afinal, é como diz o documentário O Começo da Vida: "Se mudarmos o início da história, mudamos a história toda", em referência à importância da primeira infância no desenvolvimento cognitivo e afetivo das crianças, bem como do nascimento de uma nova sociedade, de uma nova política e de uma nova economia se cuidarmos de forma fraterna e em cooperação, justamente do começo da vida.
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Portanto, a todos vocês, papais: Anderson, Bruno, Carlos, Carvalho, Cezar, Danilo, Deo, DG, Elizeu, Felipe, Israel, Jandir, Joacir, John, Josivan, Júnior, Kleyton, Luiz, Pedro, Rafael, Ronaldo, Rony, Thiago, Wender, Willian, Ygor e tantos outros (40 pais) que se somaram a esta lista, minhas sinceras admirações e agradecimentos por todas as suas histórias.
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Gratidão, papais!
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"Toda a sociedade, toda a política e toda a economia nasce do ventre materno. Cuidar do início da vida é a garantia de uma nova humanidade. A cooperação deve ser a tônica e a base das novas edificações. Sem preparação consciente para o início da vida o caos supera a criatividade ardente e enfraquece a Beleza. Mas onde o espírito se fortalece e o serviço da gestação é consciente, abnegado e sem o sentido de posse, a luz inevitavelmente brilhará anunciando os novos tempos da fraternidade."
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Ricardo Durigan

13 Chaves de Ouro da Paternidade
(para pais que vivenciam a separação durante a gestação)
1) Relaxe um pouco. Quanto maior a prova maior a oportunidade que está recebendo;
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2) Você também está grávido e em gestação, quer você tenha entendido isto ainda ou não;
3) Mas terá que viver a gestação – pelo menos no principio – como um ator coadjuvante com humildade, pois os holofotes serão totalmente delas, e, depois, para a criança. Mas deverá torna-se gradualmente uma fortaleza inquebrantável de paz, serenidade, compreensão e empatia.
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4) Não faça anacronismo. Não olhe para ela durante a gestação com os olhos de antes no relacionamento. Ficará confuso, perdido e triste se fizer esta comparação. Neste momento que ela está grávida os seus parâmetros devem ser unicamente os de agora, o seja, o da própria gestação. Pois é isto que ela está vivendo 100% agora.
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5) Importante: não se conecte emocionalmente a ela, não reivindique atenção, afeto, carinho, compreensão ou amor. Sendo o coadjuvante da história, deixe-a livre para atuar e gestar. Ela precisa de toda a energia física, emocional e mental para a gestação. Qualquer reivindicação sua de amor, compreensão ou atenção será entendido pelo sistema imunológico dela que aflora com os hormônios
como um assalto, invasão e desrespeito.
6) Por quê? Oras, pense bem! Você semeou o seu DNA através do seu sêmem dentro dela e ele está lá neste exato momento se multiplicando a mil. As vezes é este o processo que a deixa zangada e que a faz inconscientemente se afastar e se indignar com você. Afinal, você está concretamente – através do seu DNA – dentro dela, como um corpo estranho em seu organismo se multiplicando. Como a natureza é sábia e não deixa o sistema imunológica dela expulsar o feto (alguns abortos espontâneo acontece devido a isto) que tem metade de seu DNA e que é um corpo estranho dentro dela, ela expulsa você da vida dela, física e emocionalmente falando.
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7) De qualquer forma, agradeça esta oportunidade de ser pai, pois é um caminho sem volta. Você está vivenciando um processo de iniciação tanto quanto ela. Você é um pai em gestação, o seu papel é único e diferente, e tão fundamental e indispensável quanto o dela;
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8) Tudo passa. Acima das núvens o sol sempre brilha. Para que seja possível perceber e compreender um evento de fato, é necessário estar acima do nível em que ele acontece. E isto só é possível com a gratidão incondicional a tudo e a todos;
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9) Seja paciência e gentil neste momento, perdoe a si e a ela quantas vezes forem necessários. Somos todos alunos nesta historia e estamos todos aqui aprendendo juntos esta caminhada. Ninguém nasce sabendo o que fazer nestes momentos, ainda mais se for a primeira gravidez, se o relacionamento era recente e se a gravidez foi sem planejar.
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10) Imagine-se agora você com uma barriga imensa e vindo de um processo longo de 9 meses de gestação, com seus sentimentos oscilando de um polo para outro, sabendo que o seu filho(a) vai nascer pelo meio de suas pernas, que seu futuro não será mais o mesmo, que tudo será diferente: seu corpo, sua vida social, suas noites, seus dias, seus pensamentos, sentimentos e responsabilidades serão totalmente novos. Isto não é nem 10% do que elas provavelmente pensam, passam e consideram. Seja tolerante e desenvolva a empatia. Se coloque no lugar dela.
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11) E lembre-se do principal: a gestação não é um evento qualquer, banal, é algo muito forte e insondável para nós. Apesar de mágico, tem seu lado cansativo, desconfortável, de medo, de ansiedade e de stress físico, emocional, mentalmente falando em alguns casos, sem considerar o lado social, familiar e profissional que elas enfrentam e consideram também. Portanto, pare de achar que ela está agindo desta nova forma porque quer estar com outra pessoa e não mais com você. Não seja ingênuo! Lembre-se da única verdade incontestável disto tudo, a gestação é o próprio universo se multiplicando dentro dela, e não sabemos qual é o impacto disto.
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12) É cedo para dizermos então com clareza quais forças e energias entram em atividades dentro delas com a gravidez. Portanto, empatia. Muita empatia. Receba os acontecimentos de forma impessoal. Fora você, inúmeros outros papais passam e estão passando pela mesma situação. Você não e o único nesta história. Empodere-se também. Converse com outros pais, participe de rodas de conversas, fale com uma doula, parteira ou obstetra e leia tudo que puder a respeito da gravidez.
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13) E por fim, lembre-se que toda crise verdadeira é um processo de iniciação dentro de uma compreensão maior, principalmente se bem aceita, vivida e, depois, sabiamente compreendida. Também é um processo de purificação do seu caráter. Quanto mais aguda ela for, maior é a oportunidade que está recebendo. Então lembre-se: as crises não chegam para ferir você, vem para consagrar uma Lei, ela vem na proporção exata do que foi estudado, ou daquele passo especial que precisa ser dado. Portanto, dê boas vindas as provas da vida, elas abrem novos ciclos e gestam de forma exemplar novos seres e saberes.
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